Lamas Sua história
Lembram-se do primeiro foral, concedido a Miranda por D. Afonso Henriques, ainda Príncipe? Referindo-se ao Vigário (que faz as vezes do Bispo) na freguesia (rebanho de fiéis), gozava dos mesmos direitos que o sagitário (o soldado) que, detrás das ameias do Castelo, espreitava o mouro para o trespassar com uma ou mais flechas (sagita em latim). Podemos, portanto, deduzir que a igreja paroquial era uma casa indispensável no meio do grupo de povoações que constituía a paróquia. A primeira vez em que se fala na igreja de Lamas, é num manuscrito que está na posse do Ilustríssimo Pároco de Chão de Couce. É um relatório dumas visitas, não oficiais, mandadas fazer às igrejas do Arcediago de Penela por Dom Miguel da Anunciação. Como, entretanto, este Bispo foi preso pelo Marquês de Pombal, o dito relatório não chegou a ser entregue. Diz assim: “Espírito Santo de Lamas, Curato anexo ao Priorado de Miranda do Corvo, tem um telheiro ao lado. Esta igreja está bastante arruinada”. Cura António Simoens. Não admira. Na verdade, dependendo do Priorado de Miranda, deste diz a referida informação: “A igreja he a mais incapaz e indigna que encontrei e se faz mais estranhável o descuido da sua reedificação, tendo hum Pároco com o benefício mais pingue do Bispado e huma numerosa freguesia que consta de 1080 fogos que bem necessitava dividir-se para serem mais bem governados os freguezes”. Além disso, havia decerto falta de união na paróquia e até certa pretensão do lugar de Pousafoles a tornar-se sede da freguesia. A sua capela com porte de igreja, ostentando a era de 1786, atesta-o bem. Mas deve ser mal do tempo, visto a igreja da vizinha Vila Seca, nesta mesma época chegar a tal estado de ruína que as cerimónias religiosas só se podiam fazer na capela-mór. Vê-se, pois, que a igreja primitiva era muito pobre. Mesmo assim, os fiéis queriam-lhe muito não só por guardar o Santíssimo Sacramento e a Pia do Baptismo mas também por terem sido lá sepultados os seus entes queridos. É sabido que só há cemitérios a partir de meados do século passado. Apesar de pobre, os franceses na sua fuga, nos princípios de Março de 1811, destruíram-na completamente. Da sua restauração, até hoje, temos várias notícias escritas. Pedimos vénia, ao “Diário de Coimbra” para transcrever dois artigos de Belizário Pimenta sobre o assunto, em números subsequentes. “Mirante”, Ano 7º, nº 74, 1 maio 1984, f. 1, 2 |