Miranda Antiga  (“mira e anda”. O brasão)

 

Já aqui falámos que o nome da Vila de Miranda vem do latim mirandus que significa miradoiro ou atalaia que, na verdade corresponde à primitiva função de aglomerado militar.

Há, porém, outra explicação a toponímia da nossa terra baseada numa lenda de amor entre um cavaleiro cristão e uma donzela moura que ao ver o seu amado extasiado perante a sua beleza assomaria a uma fresta ou janelão e gritar-lhe-ia, “mira e anda” para que as atalaias não dessem sinal de perigo à vista.

Surpreendida em flagrante foi a enamorada donzela entalada na janela quando avisava o amante do perigo que corria.

Fértil é o nosso país (e até a nossa terra) em lendas de moiras encantadas que o povo na sua ingenuidade vai transmitindo de geração em geração. De qualquer modo foi esta história que serviu de motivo para o brasão e selo da vila de Miranda.

Outros motivos talvez mais reais, haveria para criação destes símbolos, mas permaneceu. os da lenda romanesca.

Belisário Pimenta, notável investigador que muito se interessou pela história de Miranda do Corvo escreveu sobre a heráldica do nosso concelho:

“Do séc. 16 para trás creio não se conhecerem elementos que determinem a evolução do problema; só no grande século é que parece haver notícia mais ou menos concreta através do pelourinho que deve ser do começo e dum códice manuscrito Biblioteca Municipal do Porto que deve ser do final do mesmo. Naquele há uma cabeça entalada numa porta meio fechada; neste fala-se de uma torre sobre as águas, alusão clara ao castelo sobran­ceiro aos dois rios que quase o circundam (o Alheda e o Dueça) e duma porta na torre sobre o qual está “um meio corpo” que é a donzela debruçada para fora gritando ao cavaleiro. E de cada lado da torre uma estrela de 8 pontas, mas em desenho muito ingénuo para não dizer mal feito”.

Seria assim, primeiramente, o selo de que, como em muitos casos, derivou depois o brasão?

Seria concedido oficialmente ou foi consequência do uso antigo de que se aproveitou o escrivão municipal que tinha a evidente necessidade de autenticar as resoluções dos magistrados con­celhios ou quaisquer documen­tos de importância?

É obscuro o assunto e o de­senhista do códice parece que se preocupou apenas com a explicação da frase” uma torre sobre as águas” pois à margem deixou escrito os nomes dos rios para que o leitor futuro não tivesse dúvidas acerca dessas “águas”.

Quanto às estrelas de 8 pon­tas, hoje como lembrança do rei David. símbolo do novo Estado de Israel, decerto estão ali, segundo as regras de herál­dica, significando vitórias con­tra os mouros, causa essencial da fundação da atalaia miran­dense.

“Assim, o tão romântico sím­bolo, venceu quaisquer outras razões; o selo de prata exis­tente no Museu Machado de Castro, possivelmente dos fins do séc. 17, feito com relativa perfeição, mantém os mesmos motivos do desenho rude do códice manuscrito; e a lenda perdurou e resistiu a várias transformações políticas e de tal modo que há cerca de três dezenas de anos ficou esculpida em pedra no actual edifício camarário e em zincogravuras nos papéis da secretaria e agora oficializada, por douto parecer da Associação dos Arqueó­logos”

N. R. — Este artigo foi baseado em “Notas sobre Miranda da Corvo” da autoria do Coronel Belisário Pimenta publicadas no Diário de Coimbra em 1944.

 

FAVAIS

Na sequência do artigo do Padre Luciano informamos que quando procedia à demolição de uma parede o Sr. José Antunes Lopes Paulo, do lugar de Favais freguesia de Vila Nova, encontrou uma pedra com a seguinte inscrição: IGRA 1601.

Deslocámo-nos ali e o Sr José Paulo contou-nos alguma coisa da história desta povoação que é muito antiga e que parece ter pertencido ao Convento de Santa Cruz.

Também devido à sua locali­zação, junto á antiga estrada real que seguia para Tomar, foi esta terra assolada pelas invasões francesas.

Mais inscrições estão patentes como a de uma cantaria que diz: ESTA OBRA MANDOU FAZER MEL FRANCO AIO AMA-ENRIQUES – 1692.

Também a capela da Sandoeira ostenta no seu portal uma inscrição que não conseguimos decifrar.

Será que algum dos nossos leitores tem conhecimento das origens destas inscrições ou queira pôr à prova as qualidades de arqueólogos, investigando-as?

Mirante, Ano 1º, nº 13, 1 abr.1979, f. 1, 2; nº 14, 1 Maio de 1979, f ,1, 2