Lamas

(relações com Penela)

 

Por inspiração do Vaticano II, foi a nossa diocese dividida em quatro Regiões Pastorais. No mapa publicado, aparece todo o concelho de Miranda do Corvo na área da Região Centro quando é certo que duas das freguesias deste concelho, isto é, Vila Nova e Lamas, (pertencem à Região Sul).

Houve tempos em que a diocese era dividida em três Arcediagados: Penela, Vouga e Seia.

O apêndice 1.° do vol. II da “História da Igreja em Portugal” de Fortunato de Almeida apresenta-nos o Catálogo de todas as igrejas e Comendas dos Reinos de anos de 1320-1321. É a reprodução do manuscrito n.° 179 da Biblioteca Nacional de Lisboa. Aí vêm os nomes das várias freguesias da diocese, distribuídas pelos três Arcediagados. Lá se encontra o de Penela com a enorme lista de igrejas desde Domes a Taveiro, Serpins, Lousã, Miranda do Corvo, São Pedro de Bruscos, Almalaguês, etc. Ainda se não fala em Lamas nem Vila Seca. O Arcediago era o Pároco de São Miguel de Penela.

Fez-se menção, no número anterior do “Mirante” duma visita a Lamas do Arcediago de Penela, em 1752. O seu nome era Lourenço de Paiva.

Deve ter sido o último sinal de vida do Arcediagado aquela visita de 1752.

Já consultei um relato manuscrito interessantíssimo duma visita mandada fazer por D. Miguel da Anunciação.

Este piedoso Bispo, porém, nunca chegou a ver este relato por ter sido metido na prisão no tempo do Marquês de (Pombal.

O visitador abandonou, entretanto, a vida eclesiástica e foi um seu descendente que ofereceu esta preciosidade ao actual Vigário Episcopal da Região Sul.

O último Arcediago honorífico de Penela foi o Lente da Universidade e Cónego de Coimbra Manuel Gonçalves Cerejeira, mais tarde Cardeal Patriarca.

O autor desta” linhas ainda pediu em 21 de Dezembro de 1972 que ao actual Pároco de Penela se restituísse o título de Arcediago... É pena que se deixe cair no olvido esta particularidade da História de Penela.

Quantas mudanças! Em 11 de Maio de 1822,o Cardeal Saraiva, Dom Frei Francisco de São Luís, Bispo eleito e Vigário Capitular de Coimbra, publica uma Provisão, nomeando o Prior de Miranda do Corvo, António José da Fonseca Barros, Arcipreste do mesmo distrito. Deste faz parte Lamas e Vila Seca (lê-se no Livro das Visitas de Vila Seca).

Entretanto, dá-se a Convenção de Évora-Monte. Não sei o que sucedeu ao Prior de Miranda, mas o de Vila Seca teve de fugir, voltando a ocupar o seu lugar só após a Convenção do Gramido.

Aparece então à frente da paróquia de Vila Seca Francisco Ferreira Gaspar. E, num antigo livro do Registo de Lamas, que está no Arquivo da Universidade, leio: “Francisco Ferreira Gaspar, Pároco de Vila Seca e Arcipreste do Distrito de Miranda do Corvo, por ordem do Governador do Bispado, manda aos reverendos párocos a serem (sic) cuidadosos em fazer os competentes assentos. Vila Seca, 11 de Junho de 1840”.

Até 1859, Miranda foi sede de Arciprestado a que pertenciam Lamas, Vila Seca, etc. O Arcipreste Acúrcio Xavier Freire que transitou de pároco de Miranda para Vila Seca onde faleceu, é que era o Arcipreste.

Todavia em 1862 já se encontra, nos livros dos Assentos de Lamas, o despacho do Arcipreste de Penela.

Estes casos de os Arciprestes de qualquer parte serem um dos párocos do arciprestado, diferente do da sede, nada mais significa que a impossibilidade temporária de ele exercer essa função.

Em casos como estes, temos de atender não ao valor da localidade, mas ao das pessoas.

Assim, Podentes já teve um pároco que veio a ser Bispo.

No Dicionário da História da Igreja em Portugal, leio na palavra “Aguiar António de — Bispo n. Funchal (Séc. XVI). Foi pároco de Podentes na dioc. de Coimbra.

Tinha mais de 50 anos quando foi indicado para bispo de Ceuta e Tânger em 20-10-1613 para suceder a D. Agostinho Ribeiro então transferido para a Sé de Angra. Temos notícias de que presidiu do seu bispado desde 1614 a 1625, mas é possível que não permanecesse até 1631, data em que o lugar, surge vago.

Em 1625 assistiu ao reconhecimento das relíquias de fr. Manuel Nunes, com vista à sua Canonização”.

Antes dessa data, muito antes, no tempo de D. Afonso Henriques, aparece o Senhor de Bruscos, de nome Rabaldo, com um filho que foi religioso de Santa Cruz de Coimbra e depois Bispo do Porto com o nome de D. Pedro Rabaldiz (filho de Rabaldo).

Como vimos, pois, enquanto (Miranda foi sede de Arciprestado, nem sempre foi o pároco da Vila que exerceu esse cargo. Em Penela, tem-se dado o mesmo.

Assim é que, em 1911 e 1915, quem fez a revisão dos livros, foi o pároco de Podentes Abílio Maria de Brito Amado.

Em 1913, 14 e l6, foi o pároco de Zambujal Joaquim Augusto da Silva. Já no nosso tempo, em 1977, foi Arcipreste de Penela o Padre Luís da Fonseca Antunes, pároco de Vila Nova.

O pároco de Lamas é que nunca foi eleito para exercer tão honroso Cargo.

De 1964-68, ainda houve uma tentativa de separar Lamas e Vila Nova de Penela, restaurando o Arciprestado de Miranda. Foi Arcipreste o nosso amigo Padre Fernando dos Santos Coimbra que (Deus conserve por muitas anos.

A força da tradição contudo voltou a ligar Lamas e Vila Nova a Penela.

Ainda hoje, muita correspondência, destinada ao pároco de Lamas, segue para Penela donde têm que a reexpedir.

“Mirante”, Ano 8º, nº 89, 1 ago.1985, f. 1, 5