Lamas

(População)

 

No n.° 56 de “Mirante”, lê-se esta nota, fundada nos estudos de Belizário Pimenta: “Nos começos do século XV houve uma “resenha geral dos povos” para apurar e escolher os besteiros de conto, por ordem de D. João I”.

Trata-se do primeiro recenseamento da população, feito em Portugal. Esta notícia é de grande importância para o nosso tema por se falar, nessa ocasião, já da freguesia de Lamas, o que prova que é falsa a afirmação dos que dizem que ela só se tornou independente em meados do século passado. É muito provável ter começado durante a crise nacional de 1383-1385.

É sabido que o país ficou desorganizado com a morte do Rei Dom Fernando. As lutas armadas, por esse tempo, foram muitas. Aljubarrota (em que apareceram, pela primeira vez as bocas de fogo ou bestas, chamando-se, pois, besteiros aos soldados que lidavam com elas) Aljubarrota foi o episódio mais saliente. Foi, portanto, necessário chamar soldados e obrigá-los a servir no exército.

Os nossos reis, profundamente religiosos, eram contrários aos recenseamentos da população por se lembrarem dos castigos que caíram sobre o Rei David por causa dum recenseamento que mandou fazer. Também não ignoravam que foi por causa dum recenseamento ordenado pelo Imperador de Roma, que Nossa Senhora e São José tiveram de percorrer as cerca de 30 léguas que separam Nazaré de Belém. Foi nessa altura que o Menino Jesus, nasceu numa gruta por não haver lugar na hospedaria.

Contudo, os chefes daquela época conturbada, sem ser por vaidade, viram-se obrigados a fazer a tal “resenha geral dos povos”.

No “Diário de Coimbra” de 7 de Novembro de 1950, lê-se que, “no censo de 1527, a sede paroquial de Lamas tinha 14 vizinhos (fogos), Urzelhe, 17, Pousafoles, 3, Fervença, 6”. É dum artigo de Belizário Pimenta que tiramos estas informações.

Quem ler estas notas, não pode deixar de se admirar com o crescimento de Pousafoles, sem falar nas outras povoações que, nem ao menos, são nomeadas.

Em 1757 — narra Pinho Leal — Lamas já tinha 280 fogos. Como a média de habitantes, por família, era 4, a população já tinha subido a 1.120 habitantes.

A enciclopédia Luso-Brasileira que é dos nossos dias, exagera quando dá à nossa freguesia 531 fogos e 1.186 habitantes.

Com efeito, não acredito que a paróquia, alguma vez, tivesse mais de 400 famílias e, portanto, 1.600 habitantes.

Afirmo isto, mesmo no tempo em que a pequena povoação de Urzelhe tinha mais duma dúzia de rapagões solteiros com outras tantas be­as mocetonas, de modo que não era preciso saírem da sua terra para organizarem alegres bailaricos.

Não há menos de 70 anos, lembro-me como se fosse hoje, a mocidade queria bailar. Só o Chico do Carrô é que possuía uma guitarra. Mas — óh desgraça! — apenas lhe restava uma corda. Mesmo assim, bailaram até altas horas, umas vezes ao toque da guitarra, para variar, e o resto ao ritmo de muitas modas populares do tempo.

Consultei um livro, no Arquivo da Universidade, de 1782. Nesse ano houve 22 baptizados. Em 1890, contei 36; em 1909 foram 40. Porém, em 1912, ano em que foi baptizado o Doutor Francisco Martins, houve 18 baptizados. Mas, em 1918, foram à Pia Baptismal 32 inocentes.

Deve ter sido este o ano em que morreu mais gente, por causa da pneumónica. Mesmo assim ainda foi menos um a morrer que os que nasceram.

Neste passado ano de 1984, houve 13 baptizados, sendo alguns de fora da freguesia, e 14 óbitos. São em maior número os que morrem que os que nascem!

Em 19ó3, contei 336 famílias e 1.093 habitantes.

Em 1934, contei 339 famílias, mas 1.028 habitantes.

Lamas, vai morrendo aos poucos. É preciso renascer!

“Mirante”, Ano 8º, nº 85, 1 abr. 1985, f. 1, 3