Miranda Antiga [marcos]

 

O nosso povo tinha tanto respeito pelos marcos que acredita que, quem os destrói ou muda nem Deus os quer no Céu, nem o demónio no Inferno.

Por isso, muito deve magoar ler, por exemplo, esta resposta dada pela Junta da Paróquia de Lamas, conforme a Acta de 24-6-866:

“Caminhos Concelhios da fre­guesia do Espírito Santo de Lamas: 1.º A estrada que vem de Coimbra e atravessa a fre­guesia de Almalaguês concelho de Coimbra, e passa pela Freguesia de Vila Seca, Concelho de Condeixa-a-Nova, entra nesta Freguesia no sítio das Almas do Moreno, atravessa o lugar de Chão de Lamas e segue até à Cruz do Bispo, entrando na fre­guesia de Podentes etc”.

Reparem no marco ornado duma Cruz, colocado no entron­camento do antigo caminho que segue para a Gateira, com a es­trada real, ao “muro do Índio”, perto da “quelha dos negros” Ele indicava-nos:

a) aqui deve ter morrido um bispo que viajava de Lisboa para Coimbra Dom Manuel de Noronha que não chegou a tomar posse por ter morrido em 11-5-1671?

b) Neste marco está a explicação por que a todo este sítio se chama “o bispo”. c) Aqui começa o Con­celho de Miranda do Corvo e termina o de Penela.

Não faziam mal nenhum as “almas do moreno” onde deve ter morrido algum mouro que teimou em ficar nas nossas terras após a reconquista... ou então aquele marco, perto das referidas almi­nhas, onde) há mais de 60 anos, eu gostava de ler, dum lado

Condeixa-a-Nova e do outro

Miranda do Corvo. E jaz no mato; partido em dois!

Mas sorte tiveram os três mar­cos, próximos do referido “Muro do índio”, que têm esta inscrição: “Celas “.

Quando vi esta palavra, disse comigo: “trata-se da demarcação do dote de alguma freira daqui que professou no Convento de Celas...” Com efeito, o marco, situado perto do antigo Forno da

Cal, está numa linha em ângulo recto com os outros.

Surgiu-me, porém, uma dúvida por haver muitos lugares com o nome de Celas que nada têm com o antigo arrabalde de Coimbra, onde se encontra essa jóia de arte que é o seu Convento.

Foi, mais uma vez, Belisário Pimenta que me esclareceu, ao transcrever a “Finta que fizeram, pelo Concelho de Miranda do Corvo os louvados eleitos em 4 de Março de 1808, para cumprir o decreto de Napoleão que impôs a Portugal a contribuição de cem milhões de francos. A certa altura aparece: +“Pedro Fernandes, de Pousafoles, rendeiro do Convento de Celas, etc”.

Portanto, aqueles marcos atestam que havia em Pousafoles, pelo menos, uma propriedade do Convento de Celas que foi nacionalizada por força do decreto de 27-3-1834, assinado por aquele cuja estátua se encontra, à Portagem} em Coimbra.

Respeitem os marcos!

“Mirante”, Ano 1, nº 13. 1 abr. 1979, p. 1, 3