Paróquia de Lamas (Seus limites)
Num velho livro (séc. XVII) do meu parente Carlos Falcão, encontro esta quadra: Levanta-te e fala, ó pedra, Diz-me o que tens a dizer! Pois as pedras também falam A quem as sabe entender. Vem isto a propósito duma pedra ou dum marco que se levanta sobre o túnel, ao lado do antigo casal chamado Carrô. Esse marco diz-nos que a freguesia de Lamas chega até ali por estranho que pareça. Tirando dele uma linhada até à ponte nova do Porto Rio, vê-se que aquela espécie de península que avança até à foz da ribeira de Urzelhe e o outro monte que começa no arruinado moinho do “fofa” estão dentro dos limites de Lamas. Sigamos agora pela velha estrada que, da ponte referida, vai pela Manguinha até à Perrota e depois à “Lapa mijôa”. Do lado esquerdo é freguesia de Lamas; do lado direito é freguesia de Miranda. A Lapa mijôa fica ao cimo do Vale das Andarias e era por lá que passávamos quando se ia de Urzelhe, a pé, para Coimbra, descendo à Flor da Rosa, Almalaguês, Anaguéis, Sobral, ponte dos cinco réis... Mas continuando pela estrada que vem do Porto Rio, subimos à antiga povoação de nome Cerdeiras. O limite da freguesia torneia este lugar pelos pontos mais elevados. Porém, desde a tal Lapa, começa-se a confrontar com o concelho de Coimbra, freguesia de Almalaguês. A linha corta para poente, atravessa a nova estrada alcatroada de Monforte, perto dumas antigas “Alminhas” sobe até a um novo moinho de vento e depois ao viso do monte que ali se eleva. Daí segue em direcção ao moinho de vento daquele senhor de Rio de Galinhas, aposentado da G. N. R. É este o sítio onde passava a estrada real que subia o Lombo e descia ao Porto das Vendas. Daquele moinho, tira-se uma linha ao marco geodésico do Almouroz (ou Almaroz como escreve Belizário Pimenta no “Mirante”, n.° 56 de Novembro de 1982?). Ali começa a freguesia de Lamas a confrontar com a de Vila Seca, concelho de Condeixa. Descendo do Almouroz para sudoeste, a fronteira chega às “Almas do Moreno ou do Camurço”, que não consegui ver restauradas, onde a primitiva estrada de Coimbra —Tomar entra no concelho de Miranda. Muitos se lembram de haver ali um marco que no lado Norte tinha escrito: “Miranda do Corvo” e na face do Sul: “Condeixa-a-Nova”. Foi destruído, não há muitos anos. Atravessada a macadame, há um velho muro que lhe fica paralelo. Demarca Lamas de Vila Seca. Dali se avista, no monte fronteiro, a torre da igreja dos sardinheiros. Praticamente, é o caminho antigo que segue para o Sul e, no alto de Chão de Lamas, vira para poente afim de entroncar com a estrada real que ia para Conimbriga, que constitui os limites de Lamas por aquele lado. Ao chegar ao alto da Lameira que se encontra com o extremo Sul do vale que os de Vila Seca chamam de São Domingues e que começa na Vinha da Igreja, vê-se ainda um marco divisório dos dois concelhos. Contou-me um antigo paroquiano que ao cimo do monte que se ergue na sequência das encostas da Lameira, viu três marcos, indicando que ali chegavam os limites dos três concelhos de Condeixa, Penela e Miranda. Ali, pois, termina a confrontação de Lamas com Vila Seca e começa a freguesia de Podentes. Pelo viso desse monte, vai a linha que divide Lamas de Podentes até ao caminho que vindo de Chão de Lamas, nos leva a Alfafar. Ao chegar ao sítio donde sai o outro caminho que nos leva ao vale, ao fundo do qual, se avista a vila de Podentes, corta-se para a direita, em direcção ao antigo moinho de alvenaria do Ramos e descemos pela velha carreteira. Atravessa-se a mencionada estrada Coimbra — Tomar, à Cruz do Bispo, entre a quelha dos negros e o muro do índio e entramos na antiga estrada real em direcção ao Sul. O dito muro faz estrema. Perto do sítio onde termina o muro, aparece ainda um marco. Logo a seguir, a estrada real vira para o lado de Podentes. Continuando, na mesma direcção Sul, erguem-se três marcos com a palavra “Celas”. O terceiro fica próximo dum antigo forno de cal. Não longe desse sítio, a linha divisória vira para o Nascente pelos pontos mais altos, atravessa o vale, chamado “Vidueiro” que vai dar à Cheira. Chegando a uma pequena elevação, junto do sítio chamado Vale Cambos onde, segundo testemunhos antigos, foi encontrado o célebre tesouro de Chão de Lamas, parte uma linha em direcção à ponte da Retorta. Termina, pois, ali o concelho de Penela e começa o de Miranda. Chegados ao sítio onde se começa a descer para o Fraldeu, havia um casal, o Paio Mendes, que, de certeza, não é aquele grupo de casas que o Pais Fidalgo mandou edificar. Perto do sítio onde o referido caminho se bifurca para o Fraldeu e Fervenças, sai uma linha que vai dar perto do moinho do “farufa” e daí ao alto do Cabeço donde se desce pelo valeiro que é atravessado pela estrada no “pontão” e continua até ao açude dos moinhos do Carrô. Subindo agora ao marco que está sobre o túnel, por onde principiámos, chegámos ao fim. “Mirante”, Ano 6º, nº 72, 1 abr.1984, f. 1, 2 |