Casais da Freguesia de Lamas desaparecidos

 

Os advogados do planea­mento familiar receiam a superpopulação. Cansam-se a receitar remédios para de­belar aquilo a que chamam mal.

Será preciso?

Reparem só:

1.° — Em 19 de Fevereiro de 1913, faleceu no Casal Vale da Grande, freguesia de Lamas, uma criança cha­mada Maria da Assunção. Para localizar as ruínas da casa, foi preciso infor­mar-me.

2.° — Lembram-se de João Dias Paúla? Recordo-me de ele vir do Brasil e, anos de­pois, morrer (1938).

Há um sítio na freguesia de Lamas chamado Paúla onde ninguém vive. Mas vi­viam lá os pais do tio João Paúla que lá se criou.

3.° —Em 28-1-1615 é bap­tizada na igreja de Lamas, Catarina Manuel de Paio Mendes.

Em 29-8-1621 é baptizado Manuel de Paio Mendes, fi­lho de F. e de Catarina Ma­nuel de Paio Mendes.

“Em 1-5-1745 é baptizado José do Casal de Paio Men­des...” E nunca mais é mencionado tal casal.

É claro que não se trata do Paio Mendes actual, que pertence à freguesia de Mi­randa. O antigo Casal é que ninguém sabe onde ficava.

4.°—Nos livros de Bendafé (Condeixa) encontrei no assento de Baptismo de 5-4-1770 a informação de que foi padrinho F. “natural do lugar de Val das Andarias, freguesia de Miranda”.

Notei que nos registos que começam em 1561, já se fala na freguesia do Divino Espí­rito Santo de Lamas...

Em 1616 aparecem regis­tos do Vale das Andarias.

Em 6-5-1728 é baptizado Joam do Vale das Andarias e em 30-8 do mesmo ano de 1728 é baptizada Ana.

Não havia, pois, uma só fa­mília.

Será a célebre Ana Bicha de que se fala na devassa por ocasião da visita do Ar­cediago de Penela a Lamas em 1752?

Há quem se lembre do fu­neral do “Alho”, o último habitante do Vale das Anda­rias.

5.° — Em 1571 já se fazem baptizados do Pisão da fre­guesia de Lamas.

Foi queimada pelos fran­ceses na retirada de Março de 1811. Ainda lá conheci uma parede caiada.

Aparecem também dois baptizados da mesma povoa­ção no mesmo ano. Parece ter nascido lá o célebre “Dr. Burra” — José Vicente de Carvalho, pai do Dr. José Carlos Pereira de Carvalho.

6.° — A Selada começou por ser uma quinta dada em dote a uma irmã do Mor­gado de Chão de Lamas.

Ainda estão vivos (e não são muito velhos) filhos de duas famílias que lá conheci.

Hoje só resta um montão de ruínas, cobertas de silvas.

7.° — E o Carrô? Lembro-me de lá viverem três famí­lias. Ao desmoronar-se o açude, no Dueça, que abas­tecia os moinhos, todos abandonaram aquele sítio.

8.°— Podíamos falar ainda nos moinhos do Pisão, habi­tado pelos “Celavizas”, da Murada, explorado pelo “fofa”, e o de Fervenças, onde morava o “farúfa” (perdoem as alcunhas) que não faziam parte respectiva­mente da Azenha, Murada e Fervenças. Tudo desapare­ceu!

A população não precisa de planeamentos familiares.

Já está a ser cada vez me­nos.

“Mirante”, Ano 4, nº 44, nov. 1981, f.6