Miranda antiga III

A terceira Invasão Francesa em Lamas

 

Belisário Pimenta recolheu todos os documentos que pôde, em “subsí­dios para a história das invasões francesas” (edição de 1918), relativa­mente ao concelho de Miranda do Corvo.

Escreve: “Massena iniciou nos come­ços de Março de 1911, a retirada. Quando o exército aliado desceu das alturas do Oeste e entrou na vila, o fumo dos incêndios ainda toldava os ares.

Porém, não levaram de cá lem­branças agradáveis...”

Foi ali no Espinho?... Conta-se que andava um homem a lavrar com a sua junta de bois. Surge um fran­cês, disposto a levar os animais para a tropa comer. O lavrador com a “choipa” encavada no fundo da vara racha a cabeça do estrangeiro e sepultou-o no rego depois de o ter lim­pado do ouro e dinheiro que trazia.

Deve ter sido o meu trisavô ma­terno, José António. Estava escon­dido com os vizinhos no “Fernandinho”. A mulher, Teresa de Jesus, tinha uma criança de peito (o meu bisavô Basílio António, baptizado em 19 de Maio de 1810), observando que a coluna de soldados que ocupava Pousafoles, saíra, foi a um “entaipe” para trazer alimento para o esconde­rijo. De repente ouve o gatilho duma espingarda de pederneira apontada para ele. Era um soldado francês embriagado que estava a alvejá-lo. Com uma falheira rachou-lhe a cabe­ça em duas metades...

Quando se abriu a estrada de Urzelhe, ao cimo da “quelha do Celeiro”, encontraram um esqueleto que, pelos botões amarelos se concluiu serem dum soldado francês.

Seria aquele que, ali no “Vale Salgueira” encontrou o barbeiro que vinha de Lobazes, acompanhado da sua cabaça de vinho? Sofregamente despejava a cabaça, a olhar o céu deliciado, quando a lâmina de uma navalha da barba lhe cortou os gor­gomilos...

Ou seria aquele que apareceu no Lombo a secar adegas e que, depois de bem tratado, foi atirado pelo des­penhadeiro para o “Vale das Hortas”?

Uma vez, junto a uma sacada do palácio de Versalhes, deparei com esta inscrição em francês: “General X. morto no Buçaco”.

Daqueles soldados, porém, a His­tória diz simplesmente: “desapareci­dos”.

Se levaram que contar, também fi­zeram chorar muitas lágrimas. Belizário Pimenta escreve que contou, nos registos de óbito de Miranda 110 mortes feitas por franceses.

No livro de Lamas desse tempo encontram-se registados 26 óbitos cau­sados também pelos franceses

“Mirante”,  Ano 1, nº 9, 1 dez 1978